Por Rosângela Fonseca
Na pequena cidade onde nasci, tudo que chegava era novidade, missa do domingo de manhã
então, era um festival de coisas novas: maça do amor, retratista, até o padre. Nossa! A
chegada do padre era um acontecimento, pois na minha cidade não havia pároco, então uma
vez a cada três meses, vinha um sacerdote de outra cidade para celebrar missa, casamentos
batizados, encomendar almas, todos os sacramentos que se fizessem necessários.
Ah! domingo de missa era sinônimo de festa, de ganhar roupa nova, das moças casadoiras
realizarem o grande sonho do matrimônio e as meninas o grande sonho de ser dama de honra
e eu claro nos meus sete anos não fugia a regra, e eis que numa linda manhã de domingo havia
chegado o grande dia da minha vida: seria dama de honra, que sensação maravilhosa, eu iria
entrar na igreja carregando as alianças ao lado do meu pajem, meu amiguinho Fabrício, mal
sabia eu que o destino caprichoso iria nos pregar uma peça. Eu desconfio seriamente que
nasci com uma predisposição para pagar mico, deve ser arte de algum erê brincalhão que veio
junto comigo quando vim para esse mundo. Mas voltando a minha história: estávamos todos
preparados para o casamento, noivos, daminha, pajem, pais, madrinhas e a o resto da cidade.
O padre, porém, era um homem de temperamento difícil, ranzinza, o povo da cidade, apesar
do respeito que tinha por ele, já andava com o pé atrás com o reverendo, e justamente nesse
dia vossa santidade estava com a “macaca”, disse que não iria celebrar o casamento pois a
noiva havia se atrasado por demais, sendo que a pobre noiva estava antes dos preparativos
para o casório, auxiliando o infeliz nos rituais para a eucaristia, foi para casa correndo vestir o
tão sonhado vestido para chegar na porta da igreja e não encontrar o padre que já estava de
saída para sua terra, então começou o corre-corre as famílias pedindo para o padre ser mais
compreensivo, pois senão a moça teria que aguardar mais seis meses para casar, mais não
adiantou o vigário estava irredutível quanto a sua decisão:
- Não farei casamento algum, tenho que ir.
Nessa hora então começou a grande confusão – um primo do noivo que tinha saído cedo de
sua rocinha onde morava para ir ao casamento do primo e já havia tomado umas doses de
pinga a mais na venda de Boca Rica, achou aquilo uma desfeita - onde já se viu um homem de
Deus se recusar fazer uma celebração de uma comunhão tão linda? O primo então se exaltou
pegou um chicote e disse ao padre que ou ele fazia o casamento ou o ele iria tomar uma surra
de chicote. Que furdunço na porta da Igreja: desmaia noiva, corre a mãe para acudir a filha,
corre noivo para apartar a briga, porque a essas alturas dos acontecimentos o padre também
já estava enfurecido, levantou a batina e partiu para briga, e o bebum tome-lhe chicoteada nas
pernas do padre, e foi um Deus nos acuda, a cidade parou. E eu que olhava tudo de fora, só
conseguia pensar se eu iria conseguir entrar naquela igreja carregando as alianças, comecei a
rezar para a padroeira - Nossa Senhora D”Ajuda, para ela nos socorrer e por um fim aquela
balburdia, enfim a briga acabou e o padre foi embora sem celebrar as bodas dos pobres
nubentes, que já estavam perdendo as esperanças de concretizar o enlace amoroso, mas não
pensem que essa história tem um desfecho triste não, o tabelião do cartório também estava lá
para oficializar as cerimônias e ele então celebrou o casamento e eu pude enfim entregar as
alianças aos noivos. Pelo ou menos o enlace matrimonial dos dois deu muito certo, viveram
felizes por mais de vinte anos, até que a morte do esposo os separaram.
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