África de nariz largo, cabelos “pixaim”, “meu cabelo duro é assim...” duro, carapinha engruvinhado de molinha, “eu sou neguinha”.
Para minha consciência negra herói e Zumbi dos Palmares, Guerreira Dandara, não a princesa Isabel, Sinhá Moça ou irmão branco do quilombo - herói enlatado da rede globo.
Meu ideal de político é Nelson Mandela homem bom que nunca deixou de acreditar na paz, e não Hitler ou George Bush criaturas horrendas que escreveram suas historias com tinta do sangue dos inocentes.
Para minha fé de raízes da senzala cabe o culto aos Orixás, salve meu pai Omolú, salves todos os Orixás, todos os Caboclos, todos os Pretos Velhos. Mais cabe também o culto a Nossa Senhora e a Bom Jesus da Lapa. Já que sou universal o universo cabe dentro de mim e para lembrar o grande poeta Drummond – “Em cada parte de minha alma, ergui um altar para um deus diferente”.
A Lei Áurea aboliu o chicote, mais não o preconceito que machuca tanto quanto as chibatadas. Trouxe a liberdade, mais não oportunidade – que ainda hoje o negro luta para ter, seja nas faculdades (Viva as cotas!) ou no mercado de trabalho.
Não quero que tentem mais, branquear a minha história e a minha pele de ébano – “ser negro é ser lindo, sagrado e profundo mistério do mundo”. Quero ter o direito de saber da verdadeira história de meus ancestrais, de princesas e guerreiros negros e poder repassá-las a meus filhos, netos e bisnetos. Quero respeito a cultura e a sabedoria do meu povo.
Não queiram colocar hambúrguer e coca-cola em meu tabuleiro, prefiro meu bom acarajé, meu mingua de tapioca e minha cocada gostosa.
Quero dançar ao som dos atabaques não só pra turista vê e me desejar, como fazia o Senhor da Casa grande, quando queria usar suas “negrinhas”.
Quero ter direito as cotas elas não são esmolas e sim reparação de tanto tempo de escravidão. Se o filho do fazendeiro tem direito a cota do boi por que eu não posso ter?
Exalto aqui os versos do irmão angolano Viriato da Cruz
“Rebrilhantes dorsos, fecundando com sangue, com suor amaciando as mais ricas terras do mundo
Rebrilhantes dorsos (ah, como brilham esses dorsos), ressuscitados com Zumbi, em Toussaint alevantados.
Rebrilhantes dorsos...
Brilhem, brilhem, batedores de Jazz,
Rebentem, rebentem, grilhetas da alma
“Evade-te, ó Alma, nas asas da Música...”.
Que esse seja o canto de Esperança não só dos negros de Angola, mas das Áfricas, das Américas, do mundo. E que o mundo não seja apenas lugar de branco, de rico, mais de negro, de judeu, turco, de pobre, de homens, mulheres, crianças, gays, lésbicas, portadores de deficiências, que o mundo seja lugar de gente – ser humano e aí comemoraremos o dia da Consciência humana.
Todos os dias vejo como o negro é lindo: no firme olhar do meu filho e no doce sorriso de minha filha.