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quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

Histórias de viagens



Quando eu era criança pequena lá em Gurupá-mirim ficava sonhando para chegar às férias para vir a Eunápolis, para casa de tia Idália,  brincar com meus primos Eliúde, Zane, Dei, Núbia e como meu tio Lilio, na verdade, ele é meu tio avô (ele é tio de minha mãe)  ele gostava de brincar de peteca com a gente, mesmo depois de chegar cansado do trabalho e o trabalho dele era bastante cansativo, ele trabalhava na SUCAM, lembram, é tirava sangue do dedo do povo para fazer o teste e saber se a pessoa havia contraído doenças de chagas (transmitida pelo barbeiro), mas sim, voltando ao que importa, adorava passar  férias  na casa deles, meu pai trazia baldes de coalhada pra gente comer com farinha claro, tudo, ah sim detalhe sobre a brincadeira da peteca, a gente brincava dentro de casa e sempre quebrávamos alguma louça de tia Idália, nossa! E meu tio parecia mais criança que todos nós. A gente brincava dentro de casa porque à noite era perigoso ficar na rua sabe, essa fama de Eunápolis de ser violenta, não é de hoje! Na época tinha a história de Prego, um bandido famoso na cidade, diziam que ele tinha o corpo fechado, quando a polícia o prendia ele fugia do camburão (carro da polícia), mas depois Prego teve uma morte trágica, mas enfim, era muito bom passar férias aqui, e depois para voltar para casa era outra aventura, quase uma Odisseia, pois naquele tempo a estrada de Gurupá era barro vermelho puro e quando chovia, nem sapo acorrentado passava naquela estrada, só meu pai que era  o único maluco a se aventurar.
Numas dessa idas e vindas, estávamos voltando e já era noite, quando chegamos na Córeia (cidadezinha antes de Gurupá) paramos tomamos um café num venda de beira de estrada e seguimos viagem, pois já estava bem perto, mas quando chegamos num lugar chamado toca da Onça, advinha por quê? O carro quebrou (uma picape velha que meu pai tinha) e agora o carro cheio de menino e ainda mais duas pessoas que meu pai estava levando, e o carro quebra justamente na toca da onça? E meu pai começou a me aterrorizar que onça ia chegar com fome, e ele ia me servir de comida para onça, pois eu era a criança mais velha, nossa! Comecei a ficar apavorada e eu perguntei a ele: “E por que o senhor não se oferece para onça comer?”
E ele respondeu: “E quem vai dirigir o carro?
E eu fiquei com tanto medo, mas dai minha mãe disse que era só brincadeira forrou um lençol na carroceria do carro cobriu a gente com uma lona e eu e meus irmãos dormimos lá, eu rezando para a tal onça não aparecer, até que de manhã passou alguém para nos dar um socorro, meu pai consertou o carro e fomos para casa, ufa!! Enfim, cheguei viva e com uma história para contar. Sobrevivi a onça, e depois a muitas outras “onças” que apareceram em minha vida, e as aventuras que vivi em minha infância andando de carro velho com meu pai, minha mãe e meus irmãos, me fortaleceram para enfrentar as dificuldades da vida e desde cedo aprendi uma lição com meu pai: “Não importa o problema, sempre enfrente com bom humor”.
 Então fica a dica e agora em tempos de crise, esses tempos sempre existiram desde que o mundo é mundo,  vamos enfrentar com coragem,  na época que eu era criança, década de 70, vivíamos ainda na ditadura, coisa que a gente do interior, mal sabia o que era, mas todo mundo enfrentava trabalhando e sorrindo, com bom humor, porque a crise passa, sempre passa e ficam as histórias para contar.  E para isso estamos aqui, ver, aprender e uma dia voltar para casa, então vamos aproveitar mais as coisas boas e simples, para amenizar os problemas e ri ainda que seja comendo poca zoi ou café com farinha, já comi tanto. (rrrrsss)
Rosângela Nascimento


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