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sábado, 2 de julho de 2011

Missa de Domingo.

Na pequena cidade onde nasci, tudo que chegava era novidade, missa do domingo de manhã então, era um festival de coisas novas: maçã do amor, retratista, até o padre. Nossa! A chegada do padre era um acontecimento, pois na minha cidade não havia pároco, então uma vez a cada três meses, vinha um sacerdote de outra cidade para celebrar missa, casamentos batizados, encomendar almas, todos os sacramentos que se fizessem necessários.
Ah! domingo de missa era sinônimo de festa, de ganhar roupa nova, das moças casadoiras realizarem o grande sonho do matrimônio e as meninas o grande sonho de ser dama de honra e eu claro nos meus sete anos não fugia a regra, e eis que numa linda manhã de domingo havia chegado o grande dia da minha vida: seria dama de honra, que sensação maravilhosa, eu iria entrar na igreja carregando as alianças ao lado do meu pajem, meu amiguinho Fabrício, mal sabia  eu que o destino caprichoso iria nos pregar uma peça. Eu desconfio seriamente que nasci com uma predisposição para pagar mico, deve ser arte de algum erê brincalhão que veio junto comigo quando vim para esse mundo. Mas voltando a minha história: estávamos todos preparados para o casamento, noivos, daminha, pajem, pais, madrinhas e a o resto da cidade. O padre, porém, era um homem de temperamento difícil, ranzinza, o povo da cidade, apesar do respeito que tinha por ele, já andava  com o pé atrás com o reverendo, e justamente nesse dia vossa santidade estava com a “macaca”, disse que não iria celebrar o casamento pois a noiva havia se atrasado por demais, sendo que a pobre noiva estava antes dos preparativos para o casório, auxiliando o infeliz nos rituais para a eucaristia, foi para casa correndo vestir o tão sonhado vestido para chegar na porta da igreja e não encontrar o padre que já estava de saída para sua terra, então começou o corre-corre as famílias pedindo para o padre ser mais compreensivo, pois senão a moça teria que aguardar mais seis meses para casar, mais não adiantou o vigário estava irredutível quanto a sua decisão:
 - Não farei casamento algum, tenho que ir.
Nessa hora então começou a grande confusão – um primo do noivo que tinha saído cedo de sua rocinha onde morava para ir ao casamento do primo e já havia tomado umas doses de pinga a mais na venda de Boca Rica, achou aquilo uma desfeita - onde já se viu um homem de Deus se recusar fazer uma celebração de uma comunhão tão linda? O primo então se exaltou pegou um chicote e disse ao padre que ou ele fazia o casamento ou o ele iria tomar uma surra de chicote. Que furdunço na porta da Igreja: desmaia noiva, corre a mãe para acudir a filha, corre noivo para apartar a briga, porque a essas alturas dos acontecimentos o padre também já estava enfurecido, levantou a batina e partiu para briga, e o bebum tome-lhe chicoteada nas pernas do padre, e foi um Deus nos acuda, a cidade parou. E eu que olhava tudo de fora, só conseguia pensar se eu iria conseguir entrar naquela igreja carregando as alianças, comecei a rezar para a padroeira - Nossa Senhora D”Ajuda, para ela nos socorrer e por um fim aquela balburdia, enfim a briga acabou e o padre foi embora sem celebrar as bodas dos pobres nubentes, que já estavam perdendo as esperanças de concretizar o enlace amoroso, mas não pensem que essa história tem um desfecho triste não, o tabelião do cartório também estava lá para oficializar as cerimônias e ele então celebrou o casamento e eu pude enfim entregar as alianças aos noivos. Pelo ou menos o enlace matrimonial dos dois deu muito certo, viveram felizes por mais de vinte anos, até que a morte do esposo os separaram.

 Rosangela Fonseca é atriz e escritora

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